terça-feira, 26 de maio de 2009

A FINA LÂMINA DO PRESENTE

O futuro é uma massa caótica, imensurável, onde estão todas as coisas imagináveis, inclusive as coisas que jamais existirão. Uma fina lâmina de existência segue cortando em retalhos essa imensa massa de possibilidades, definindo num instante de duração infinitamente curta o momento presente. Revela-se dinâmico, rico, colorido, formas exuberantes expandindo-se em todas as direções, repleto de sons, cores, sabores, texturas, aromas, e segue feito uma onda gigantesca, arrombando o futuro, deixando atrás de si os cristais duros e imutáveis do passado.

domingo, 24 de maio de 2009

MODELAGEM


Se você quer saber como Deus fez o homem, não perca tempo com suposições. Amasse uma bola de barro e trate de esculpir um homem. Pode ser apenas a cabeça, já dá pra ter uma idéia da dificuldade. Depois faça uma mulher, então perceba como a dificuldade não diminuiu com a experiência, pelo contrário. Esculpir uma mulher é um exercício extremamente complexo. Mas não esqueça que você está produzindo somente as formas exteriores. O Criador, esteja onde estiver, seja ele quem for, teve de produzir também nossos elementos anatômicos. Ossos, músculos, nervos, órgãos, etc. E mais do que isso, criou uma fantástica rede de relacionamentos entre todos os itens desse corpo fenomenal. Chamamos a isso “fisiologia”. Não satisfeito, criou uma coisa absolutamente real, mas intangível, exceto nuns raros momentos de amor e de arte, chamado “espírito humano”. E finalmente planejou, desenhou, definiu e realizou o inacreditável, extraordinário e inexplicável dom que só as mulheres têm. O que é isso? Sei lá, não sou mulher.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

CRÔNICA DAS LUZES

A mais delicada das propriedades da luz é o seu caráter não penetrante. A mais fina das películas opacas veda sua passagem, ainda que ela tivesse potência para atravessar o cosmo através da eternidade. Por que se propaga no vácuo tamanha força e jamais se esgota? Ao contrário de outras “substâncias”, um raio de sol jamais enferruja ou fenece.

Acaso há algo no fundo firmamento que ela alcance em seu eterno propagar-se? Que fundos de universos iluminaria, qual a cor do nada que encontra ao término da grande abóbada cósmica? E a mais absurda das questões, que exige uma resposta igualmente absurda: ao deparar com o fim do mundo, desde que não seja um anteparo, em que substância a luz se propagaria absorvida no nada, ou, lembrando Lavoisier, em que se transformaria tendo encontrado seu termo? A impossibilidade de imaginarmos a luz desintegrada pela súbita presença do nada não deixa acreditar na finitude do universo. É possível conceber fins relativos, mas jamais o termo absoluto.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

sábado, 16 de maio de 2009

Os abacaxis de Prudentópolis

O pernambucano estava entrando em desespero, com o caminhão lotado de abacaxis cheirando a maduro, estacionado diante do depósito de cebolas do meu pai. Tinha levado cano de um comerciante de Ponta Grossa, viajando mais de mil quilômetros para descobrir que o comprador havia fechado as portas naquela mesma semana. Meu pai, acostumado a abandonar-se ao apelo das emoções alheias, e em busca das suas próprias, propôs ao desesperado que trocassem os abacaxis por uma carga de cebola. Os olhinhos do pernambucano brilharam, e mais que depressa foi providenciado o escambo. Mudamos os abacaxis de carroceria, depois jogamos os sacos de cebola  no caminhão do nordestino, prontinhos para serem vendidos lá no Recife.

Mal partiu o pernambucano, saímos meu pai e eu para vender os abacaxis, ele na boléia, eu com doze anos em cima da carga, sentindo aquele cheiro gostoso dos abacaxis, que já estavam derretendo de maduros. O vento fresco da manhã batia em meu rosto e me fazia o mais bem-aventurado dos meninos da Terra sobre a carroceria do velho F-600.

Meu pai tinha amigos em todas as esquinas da cidade, e se sentia livre para chegar buzinando na frente das casas, de onde mulheres, mocinhas e homens crescidos saíam, já com a bacia e a sacola na mão. Meu pai providenciava para que todos ficassem sabendo a exótica origem das frutas. Enternecidos com aquela imensa generosidade prestada a um desconhecido, e querendo aproveitar a oferta, que não aparecia por ali todos os dias — as bodegas da vila só vendiam bananas — nossos clientes pediam mais e mais, voltando para casa com as bacias e sacolas cheias.

Passava do meio dia quando meu pai puxou do facão atrás do assento, decidido a experimentar um abacaxi. Pediu que eu lhe alcançasse o maior e mais maduro. Escolhi no monte um bem gordo, com os gomos já passando do amarelo para o laranja, dei uma boa cheirada, senti aquele gosto forte que jamais havia tocado minhas narinas, e alcancei para o meu velho. Ele rasgou com displicência a casca grossa, deixando escorrer o sumo pelo fio comprido do facão, tirou alguns pedaços grandes e distribuiu aos circunstantes. Atiçados pelo aroma da fruta madura, os fregueses avançaram, e logo meu pai tinha nas mãos nada mais que o caroço — sabe-se lá como se chama aquele miolo duro que sobra dos abacaxis!

O sol continuava em marcha, e meu pai queria aproveitar o dia, fazendo o maior número de casas possível, sem correr o risco de perder a carga, que já começava a derreter e fazer água sobre a carroceria. A venda continuou pela tarde, e eu sequer atinei com a possibilidade de abrir com as unhas aquela casca de jacaré, tão áspera ao toque, tão dura, guardadora de um sabor que aquele cheiro acidoce não disfarçava, com o calor fazendo arder sobre a carroceria o meu desejo. Mas o sorriso de contentamento de meu pai era como um vento de felicidade que apaziguava a minha fome, pela sorte de recuperar com sobras o investimento incerto, mas principalmente porque se sentia um aventureiro nestas horas de sua ousadia, capitão de sua própria vida, senhor dos seus sonhos, construtor de suas próprias esperanças.

Quando lhe alcancei o último dos abacaxis, ele perguntou “sobrou algum aí pra nós?”, respondi “nem pro cheiro!”, e ele soltou a mais sonora das gargalhadas.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O URSO DO MAMBA

Se você ainda consegue despregar os olhos desses ícones de out-doors, onde o valor das almas é medido pela beleza do conjunto, então posso lhe revelar um segredo. O Mamba existe, tem algo em torno de vinte anos e possui uma qualidade que jamais se verá inscrita numa placa publicitária. Mamba cultiva, talvez sem saber, a famigerada bondade, virtude há muitos anos expulsamos de nosso vocabulário.

Esse meu amigo não tem disfarce. Somente óculos grandes que lhe realçam os olhos já abertos por natureza, e uma barba longa e espessa, que arredonda seu rosto, tornando-o ainda mais semelhante a si mesmo. O andar lento é de um elemento pacificado, como filho do chão que jamais teve impulso de voar. É verdade que se realiza deixando soltos os cabelos longos e negros, e vê-se que tira prazer de uma lufada de vento. Mas no conjunto é um grande urso, feito em si mesmo ao seu bel prazer com a argila e o cinzel da oficina de seu pai.

Está sempre disposto a levantar uma palha do chão, ajudar na mudança, apertar os parafusos do guarda-roupas. Sempre pronto a dar uma carona, distribuir um sorriso, mandar uma carta de aniversário. Digo carta, pois o Mamba não economiza palavras quando quer nos mostrar que vale a pena completar mais um ano, selar um casamento, rezar uma missa de sétimo dia, passar no concurso da polícia ou qualquer coisa que exija devoção.

Sua bondade enche as ruas, feito uma nuvem lilás de sombras violetas, que se deposita nos muros, nas folhas dos arbustos e nas bordas dos narizes dos homens de negócios. Eles seguem suspirando, sem saber que estão tocados pelas novas cores da cidade, sem se dar conta de que poderiam nestes momentos penetrar o impagável sublime “estar no mundo”.

Quando perguntei qual era o segredo de tamanha serenidade, Mamba apertou os lábios, estalou os olhos, deixando notar que se preocupava em dar-me uma resposta imediata. Sem dizer nada, foi até sua mochila de cem litros, que sempre traz nas costas e deixa encostada na soleira, e abriu o zíper.

— Foi ele — disse-me, puxando um espesso tecido de veludo marrom. — Eu não sei como te dizer, mas sei que foi ele — completou, terminando de tirar da mochila um grande filhote de urso pardo, que se chacoalhou feito um cachorro molhado e começou a andar em círculos pela sala.

terça-feira, 12 de maio de 2009

sábado, 9 de maio de 2009

Dieta diet


Você conhece algum pato selvagem com problemas hormonais? Alguma vez presenciou na floresta um tigre obeso? Libélulas com banha na cintura? Tamanduás inchados? Que eu saiba, dentre todos os animais selvagens, o único que apresenta problemas de peso é a “anta gorda”.

A Natureza mantém as jaguatiricas num controle rígido e eficiente, e é por isso que estão sempre saudáveis e esbeltas. A técnica é deixá-las absolutamente à vontade, que comam, procriem, desenvolvam-se ao seu bel-prazer, até o limite permitido pelas outras espécies. A tartaruga, aquela de carapaça esverdeada — ou mesmo a amarela com listras marrons e outros arranjos colorais — havia tamanha certeza (do Criador) de que ela jamais ultrapassaria o peso ideal, que veio já com uma roupagem inelástica. Você não pode engordar, tartaruguinha, mesmo que queira (até onde eu saiba)!

Todos esses casos mostram como a natureza preserva saudáveis seus filhos obedientes. Você jamais encontrará na floresta uma serpente com excesso de peso, exceto naqueles dias em que ela engoliu um boi. Os sabiás engordam, sim, no auge da temporada de caquis, ficam com as sambiquiras amareladas, mal conseguem voar, mas não se sabe de algum deles que tenha permanecido nesse estado por mais de umas poucas semanas.

Somente nós, que comemos a maçã proibida do conhecimento, caímos na desgraça da barriga grande, das mãos inchadas e da hipertensão. Os costumes que inventamos, os frutos que recriamos, as mentiras que nos contamos, a maquinaria que nos proporcionamos, tudo isso formou uma maçaroca em nossa cabeça, atiçou os apetites dos demônios dormentes, resultando na espécie mais comilona jamais vista na face do planeta. Sorte das academias de ginástica e dos doutores especialistas em neoplasias, diabetes e gordurinhas localizadas. E também dos pastores em geral, cujos empregos são garantidos pela recorrência de nossas más virtudes.

Os animais mais próximos a nós também padecem dos males da nossa civilização. Veja o porco, por exemplo. Trancado no chiqueiro, que outra alternativa resta-lhe, senão comer e engordar? Para deixá-lo ainda mais neurótico, vão lá e castram o animal, o que o põe ainda mais desiludido, estressado e consumista. O pombo também engorda, o boi, a galinha e o peru. Ultimamente também o búfalo, o lagarto e o furão começaram a balofar. São animais que, aos poucos, vão perdendo contato com a fonte criadora, tornando-se dependentes destes neuróticos reconstrutores do mundo que somos nós.

O “macro” dessa questão pode ser visualizado como um mapa todo quadriculado, na fotografia do satélite, uma mancha marrom gigantesca incrustada no tapete verde. A cidade engorda a olhos vistos, espalha-se feito um câncer instalado no meio da floresta. O alimento vem pelas veias das estradas, formando o SÚE — Sistema Único de Engorduramento.

Os números não mentem: em 1906 havia 50 mil pessoas na cidade de Curitiba. A capital paranaense tinha então pouco mais de um quilômetro de diâmetro. A população pulou para aproximadamente 2 milhões e o diâmetro seguramente ultrapassa os 20 km. Se fôssemos converter em casas com áreas equivalentes os milhares de andares de cada prédio, a cidade emendaria com a capital paulista.

Crescendo as cidades nessa proporção, qualquer profeta de meia pataca pressente a catástrofe futura. Curitiba não é um grande centro cultural, com belíssimos teatros, cinemas, shoppings, montadoras de automóveis e gente bonita, como quer o pessoal do marketing. É uma doença instalada no meio de uma bela floresta, e alguns políticos ainda têm a pecha de designá-la “Capital Ecológica”. A fumaça dos escapamentos e os esgotos das ruas centrais fazem pensar em algo “pós-bomba-atômica”, ou simplesmente “pós-pum”. Qualquer nariz sensível percebe que a cidade é uma fedentina insuportável, exceto os narizes dos próprios curitibanos, que só respiram perfumes franceses nas ruas de sua magnífica megalópole européia.

Mas retornemos aos eflúvios da floresta. Se você quer receitar comportamento
light, aponte os caminhos do lobo guará, sempre magrinho e esbelto. Com exceção daquele que está preso no Jardim Zoológico, já visivelmente adulterado.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Tarde de garoa

Tarde de garoa, cheiro de bolacha e sabor de chá. Garota brilhando na janela, brincando de me olhar. A lembrança das tardes infinitas, o barulho dos sinos, o som das rodas da carroça... os sentimentos inexplicáveis que aprisionam minha linguagem ao oceano conceitual. O gosto das coisas que o tempo me ofereceu ao longo dos anos perpetua-se na memória da humanidade, na consciência viva e dinâmica que jamais se tornou conceito e nunca será publicada. 

terça-feira, 5 de maio de 2009



Nem as Leilas, nem as Lilas,

nem as Lailas, nem as Dalilas,

resistem ao lilás.

Nem mesmo as Laises, aliás.

sábado, 2 de maio de 2009

O mercador de Veneza e o nó górdio

Neste período medieval em que estamos, com marechais enviando tropas e navios à conquista dos “pagãos” do Oriente Médio, como nos tempos de Alexandre e das Cruzadas, os velhos conhecimentos, tão necessários ao crescimento da humanidade, estão novamente abandonados. 


Não gosto de pensar que os antepassados possuíam soluções melhores que as nossas. Mas às vezes precisamos voltar a Alexandre Magno, ou a Shakespeare, para descobrir onde está o nó que travou nosso crescimento ético e espiritual.

Quando o conquistador macedônio cortou o nó górdio, não estava somente encontrando uma solução inusitada a um problema difícil. Estava abrindo a possibilidade de retroceder, sempre que necessário, a um estado selvagem, onde a lei se torna apenas uma palavra. Havia um enigma a ser decifrado, criado como elaboração do espírito, como cultura. Sentindo-se incapaz de desvendar, pela inteligência, destruiu o mistério com sua espada. Uma brincadeira de imperador, que tudo fazia para a felicidade dos súditos, mas as repercussões foram dramáticas. 

Talvez sejam poucos os conquistadores que realmente conheceram a história de Alexandre, mas temos visto, ao longo de “nossa história humana”, muitos deles usando a espada, antes da inteligência. Incapazes de imaginar soluções pacíficas, inteligentes e éticas para desfazer o nó, enviam navios, aviões, bombardeiros, e destroem cidades e países.

Shakespeare também ensina, com seu Mercador de Veneza, por que países como o Brasil não conseguem encontrar o caminho da paz. O personagem judeu da história havia conquistado o direito de tirar uma lasca do corpo do mercador, após uma aposta perdida por este. Embora parecesse absurdo e desumano, o credor queria exercer seu direito, e sabia que o Estado, representado neste caso por seus juízes, não o impediria, pois perderia o respeito da população. Era mais desejável um Estado conivente com uma crueldade legalmente praticada, que um Estado generoso e frouxo, incapaz de respeitar suas próprias leis. O mercador estava na praça, o judeu já afiava a faca e se lançava impiedoso para colher seu naco de carne, mas acabou sendo obstruído pelo gênio retórico de Shakespeare.

Em algum momento da história humana brasileira, algum dos nossos estadistas abriu as comportas para a ilegalidade, e depois disso, como controlar a turba furiosa? Ou, talvez, desde o início da colonização, nenhum estadista mostrou-se disposto a fazer valer a lei neste país, por isso já nascemos corrompidos, brutos e selvagens. 

Confesso que sempre fui avesso a leis. Prefiro viver como um selvagem que programa a vida ao seu bel prazer (ainda que submisso às “leis do mercado”). Mas noto que a maioria da população gostaria de viver o conforto de um Estado Legal, onde todas as leis fossem realmente cumpridas. Mas quando os juizes deixam de efetivar a prisão dos congressistas corruptos, dos empresários ladrões, dos executivos desonestos, ou mesmo da delicada mocinha que planejou o assassinato dos próprios pais, o Estado perde sua moral e ninguém mais precisa respeitar a lei.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Crônicas escatológicas




“Nem parece banco”. Esse slogan esteve em todos os principais canais de TV alguns meses atrás. Com muito orgulho e galhardia, uma das maiores instituições bancárias do Brasil dizia ser tão boa para seus clientes que nem parecia um banco.

Seria algo como o padeiro da esquina dizer “olha, eu vendo um pão tão saboroso que nem parece pão”, ou o vendedor de esterco afirmar que seu produto nem parece esterco.

Está aqui o reconhecimento de que a instituição bancária é uma coisa tão abjeta, tão deplorável, tão maligna, tão podre e lastimável, que nega sua própria natureza quando necessita divulgar-se para manter-se viva. Uma viçosa porcaria que cresce cada vez mais no centro da cidade, um grande monte de esterco (o que mais se pode pensar de um prato de comida que nem parece comida?!).

 

Disseram-me que o município paulista de Barueri é um dos quatro que mais arrecadam impostos bancários no país. Tem lógica? Imagine a seguinte situação: um grupo de instituições bancárias faz um acerto com determinado município para que este reduza drasticamente o imposto sobre serviço bancário. Em troca, todas essas máfias registram suas sedes nesse município, pagando aproximadamente 1.000% a menos do que normalmente pagariam. E os municípios sedes das agências bancárias ficam sem o seu quinhão de impostos. Alguns deles já estão reivindicando milhões em ressarcimento.

Al Capone foi preso por sonegar impostos. Por que os nossos juízes não põem na cadeia esses mega-sonegadores brasileiros?

 

A estrela da fotonovela anuncia um iogurte com fibras e garante que em 15 dias todo e qualquer resíduo acumulado entre as dobras intestinais será dado à luz, e o fluxo natural será regularizado. Ela não diz se será necessário continuar ingerindo tal produto para manter o intestino obediente, mas garante que funciona, e se não funcionar a fábrica devolve o dinheiro investido.

Diga-me, leitor, como um indivíduo poderá provar que o artifício não funcionou? Ele terá de filmar a ingestão de todos os iogurtes. E depois, como comprovará que não deu certo? E o fabricante, como poderá averiguar se funcionou, ou certificar-se de que não funcionou? Poderá, quem sabe, designar uma equipe para acompanhar o consumidor em suas idas e vindas ao banheiro. Mas e se na hora ele simplesmente resolver segurar o cocô?

Pode parecer de mal gosto, leitor(a), mas você há de convir que as questões acima estão no cerne da nossa civilização. Precisam ser discutidas e resolvidas, se quisermos continuar andando. A mentira faz parte da instituição da propaganda, enojo-me e concordo, mas há uma grande diferença entre dizer que tal shampoo impede a queda de cabelo e afirmar que este banco é algo melhor que banco, ou que aquele remédio ou iogurte é capaz de dissolver as conseqüências naturais do estresse e da tristeza.