segunda-feira, 2 de novembro de 2009

CORAGEM

Vi um menino, recém-chegado da Amazônia, sendo entrevistado no programa “Jovens Talentos”, do Raul Gil. Disse que passou seis meses viajando, de cidade em cidade, com a família, para morar em São Paulo. Seu sonho era apresentar-se naquele programa. Pretendia cantar junto com o irmão, mas este havia desaparecido misteriosamente em algum canto do auditório.

Corajoso, sozinho, o garoto começou a mostrar uma sertaneja. Canção nova, xarope, mas sentida, e à medida que cantava os olhos molhavam-se de lágrimas, as gotas vazaram, o rosto do menino transformou-se num rio de lágrimas, os olhos uma fonte límpida de ternura, tristeza e paixão. A voz encontrou entulhos na garganta, mas o menino não parou, continuou a derramar sua vida pelas faces, e na platéia os jurados lançavam mãos aos lenços, e naquela jovem tarde de sábado até as traças do velho paletó do Raul Gil desfizeram-se em lágrimas.

Que momento lindo vivemos naquela hora! Quantos discos de platina mereceram aqueles minutos tão verdadeiros! Quantos milhões de sensibilidades despertaram aqueles olhos, retrato de uma esperança renascida das cinzas da miséria!

Lembrando aquele ser brilhante, tenho fé de que, apesar de todas as algemas criadas pelo capital, pelo mercado ou qualquer dessas coisas demoníacas inventadas para manter 2% no céu, 80% no inferno e 18% no purgatório, dessas putarias que impedem de registrar nossos sentimentos, a verdade um dia vencerá, a arte novamente renascerá. E ela não terá logomarca nenhuma!

domingo, 1 de novembro de 2009

ADORNO


O amor pede um adorno,

mil fitas entrelaçadas
nas bordas da pele,
correntinhas e rendilhas dependuradas,
transbordando purpurina.
Enfeites de pétalas secas de girassóis,
colares de contas de vidro,
franjas pintadas nas mangas,
vermelhas nos punhos
envoltos em seda e veludo.
Talco nas faces, perfume de tangerina,
coroa e brincos iguais ao colar.
O amor se enfeita como noivo
ávido de beleza e esperança,
o que lhe é mais caro.
A dor do amor caminha no sangue,
trafega nos braços,
se aloja nos ossos.
Enquanto remédio ou veneno,
o amor está sempre
em sua máxima medida.